o peso do silêncio
quando eu era criança, minha irmã me castigava de um jeito que ninguém via: com silêncio. não havia grito, nem explicação, apenas a ausência. ela me apagava do mundo dela como se eu nunca tivesse existido. e quanto mais eu buscava ser ouvida, mais me tornava o eco de um som que ninguém escutava. doía. porque não era raiva, era nada. e nesse nada, eu me desdobrava por inteira. fazia malabarismos pra merecer de volta um lugar que, no fundo, eu acreditava ser meu por direito.
com o tempo, entendi: aquilo era só o ensaio de uma peça que eu repetiria em muitos atos. outros nomes, outros rostos, mas o mesmo roteiro. me tornei leal até a exaustão. perdoei o imperdoável. insisti onde ninguém mais se atreveria. me entreguei até quase desaparecer. porque o que um dia foi bonito, para mim, vira sagrado. guardo memórias como relíquias, mesmo quando já se transformaram em cacos e, mesmo cansada, tento colar o que insiste em se partir. quanto mais tento, mais escapa pelos meus dedos. mas eu fico. porque, se foi amor um dia, ainda pode ser. talvez só precise de mais tempo, mais esforço, mais de mim.
eu não sei partir. não sei abrir mão. não sei fechar a porta que um dia me acolheu.
e então eu fico com mãos vazias e o coração batendo em súplica.
até que, sem perceber, estou ali parada na frente daquela porta fechada, batendo de leve e perguntando baixinho: "você quer brincar comigo agora?" mesmo depois de tudo. mesmo sabendo que, talvez, outra vez, a resposta seja o silêncio.
entendo cada palavra do que você disse... também ainda não aprendi direito a abrir mão do que me faz mal porque foi bom um dia, mas acho que isso o tempo ensina!
Muito bom o texto <3
seu texto marcou o equilíbrio perfeito entre o belo e o triste, que escrita linda! pfv continue escrevendo, a escrita tem poder pra deixar esse peso mais e mais leve amiga